Kali

Ana Vasconcellos
Eu como a carne, devoro os ossos porque me embriaga a alma. Ela me impulsiona a dilacerar o vida, o que parece certo, concreto, para experimentar a fluidez sanguínia e carmim de estar viva. Eu pulso. Uma pulsão que se encolhe e se perde. Uma pulsão que ultrapassa. Mas não fico coagulada.


Kali, nome de deusa ou puta? Apelido de cadela ou de profeta? Um misto de tudo e um pouco mais. Pois me revelo apenas nas minhas entranhas, estranhas, oníricas, miragens de imagens de luz e sombras. Mergulha sem anestesia. Vai doer sim, proque crescer é continuar mesmo que doa até que ela se transforme em vida.

Não tenha medo. Eu mordo. Mas assopro, acarinho e salto de mãos dadas. Mergulha? Se seguir o perfume da minha alma eu me revelo. Decifra-me ou, Te Devoro!